A biomassa da banana verde é apresentada em várias publicações das redes sociais como uma cura para a depressão.

Num grupo do Facebook sobre remédios caseiros e ervas medicinais com mais de 160 mil membros, alega-se que a biomassa da banana verde combate a depressão por conter triptofano, uma “substância importante para formar serotonina”, segundo o autor da publicação.

Noutro post, a biomassa da banana verde é apresentada como “o melhor remédio do mundo para a depressão”.

Segundo várias publicações, para fazer a biomassa de banana verde é necessário cozer seis a oito bananas verdes com casca bem lavada numa panela de pressão durante oito a 10 minutos. Depois, assinala-se, é necessário descascar as bananas “ainda quentes” e triturar a polpa até formar uma pasta cremosa.

Na mesma linha, defende-se que este preparado pode ser mantido no frigorífico até quatro dias ou congelado durante dois meses para ser utilizada, por exemplo, em “sumos, patés, massas para pão, bolos ou sopas”.

Para combater a depressão, lê-se nas publicações, deve-se consumir “dois cubinhos por dia: um ao almoço e outro ao jantar”. Mas será mesmo assim? A biomassa de banana verde cura a depressão?

É verdade que a biomassa de banana verde cura a depressão?

Apesar de reconhecer que o consumo de biomassa da banana verde possa “indiretamente” ter benefícios para a saúde mental, João Perestrelo, médico psiquiatra e psicoterapeuta, considera que “não é correto” dizer que seja um tratamento para a depressão.

Segundo o especialista, o tratamento da depressão será “sempre multimodal”, com medicação, exercício, dieta e psicoterapia.

Em declarações ao Viral, o psiquiatra explica que a biomassa da banana verde “é uma fonte de amido resistente”, um tipo de hidrato de carbono que chega ao intestino grosso sem ser digerido.

Isto resultará na produção de ácidos gordos de cadeia curta (AGCC), que é “benéfico para a saúde intestinal”, ajudando a reduzir a inflamação associada à depressão.

“A saúde intestinal tem uma ligação com o cérebro através do famoso eixo intestino-cérebro”, esclarece o médico, acrescentando que as bactérias e outros microrganismos influenciam a inflamação do cérebro, assim como a modulação do sistema imunitário e a produção de neurotransmissores.

Os neurotransmissores – que são substâncias químicas que as “células usam para comunicar entre si” – são, na ótica do especialista, “preponderantes” para a saúde mental. É o caso da serotonina, um neurotransmissor que “ajuda a regular o humor e promover sentimentos de bem-estar e felicidade”.

Este neurotransmissor pode ter um “grande impacto na saúde mental”, uma vez que baixos níveis estão associados a quadros depressivos. No entanto, o seu papel na depressão é “complexo e não está completamente compreendido”, salienta.

A biomassa da banana verde fornece ainda algumas vitaminas e minerais, como o magnésio e vitamina B6, que podem ter um “papel importante” na saúde mental, acrescenta o psiquiatra ouvido pelo Viral. 

Apesar dos benefícios do triptofano (um aminoácido “precursor da serotonina”), consumir apenas alimentos ricos neste aminoácido “nem sempre se traduz em níveis aumentados de serotonina no cérebro”.

Embora a biomassa da banana verde contribua para a saúde do intestino e para uma dieta equilibrada, “não é correto afirmar que, por si só, possa melhorar significativamente os níveis de serotonina no sistema nervoso ou combata os sintomas depressivos”, reforça João Perestrelo.

Aliás, o especialista em saúde mental considera que é “totalmente” desaconselhado o uso de qualquer “abordagem caseira” no tratamento da depressão.

Uma revisão sistemática de 2019 a 18 estudos verificou que vários destes trabalhos relacionaram o consumo de produtos feitos a partir de banana verde com “melhorias para a saúde”, sobretudo em doenças gastrointestinais, diabetes e controlo de peso. Apenas um não apresentou benefícios. No entanto, os autores consideram que são necessários mais estudos para haver consistência em relação aos benefícios destes preparados de banana verde.

Mas o que é a depressão?

João Perestrelo começa por explicar que a depressão é uma doença “séria e potencialmente ameaçadora da vida”.

Também conhecida como perturbação depressiva maior, a depressão é caracterizada por uma “tristeza persistente, que é diferente da tristeza normal, e numa perda de interesse ou prazer em atividades anteriormente gratificantes”.

As pessoas com depressão podem ter uma “ampla variedade” de sintomas. 

Alguns deles passam por alterações no peso e no apetite, problemas de sono, falta de energia (muitas vezes ficam o dia inteiro na cama), dificuldade de concentração, sentimentos de inutilidade e culpa e pensamentos de morte ou suicídio, enumera João Perestrelo. 

Estes sintomas são também referidos no artigo “Depression’s diagnosis”, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo, como fenómenos de transtornos depressivos.

Depressão tem cura? Qual?

O diagnóstico e tratamento da depressão devem ser feitos por um profissional de saúde mental, salienta João Perestrelo. 

É uma “condição tratável” e muitas pessoas têm até “alívio de sintomas” com o tratamento apropriado. No entanto, pode ser uma doença “recorrente”.

Isto é, embora os sintomas possam ser controlados, pode haver “recaídas ou episódios depressivos” ao longo da vida.

Os tratamentos mais comuns são a medicação (antidepressivos), a psicoterapia e, em caso de depressão grave ou resistente, neuromoduladores – terapia eletroconvulsiva (ECT) e estimulação magnética transcraniana (EMT), refere.

Em declarações ao Viral, o médico acrescenta que tratamento pode ser complementado com estratégias de autocuidado e estilo de vida, como dieta saudável, exercício físico regular, sono adequado (a privação pode “exacerbar sintomas da depressão”), redução do stress, socializar e exposição à luz solar (“pode ajudar o corpo a produzir vitamina D e a aumentar os níveis de serotonina”).

A alimentação deverá ser “rica em frutas, legumes, grãos integrais, proteínas magras e ácidos gordos ómega-3”. O psiquiatra adianta ainda que se deve evitar o consumo de drogas e álcool por serem substâncias que interferem no “equilíbrio químico do cérebro” e, por isso, agravar a depressão.

Para reduzir o stress, João Perestrelo aconselha a prática de yoga, meditação e respiração profunda.

Apesar de reconhecer que “alguns produtos naturais”, como a erva de São João (Hypericum perforatum) ou suplementos de SAMe, podem atenuar sintomas depressivos, o psiquiatra salienta que “não substituem tratamentos médicos” e só devem ser utilizados após consulta de um profissional de saúde.

Em suma, a biomassa da banana verde pode ter uma ligação “indireta” à saúde mental por contribuir para a saúde intestinal e fornecer nutrientes importantes. 

No entanto, salienta o psiquiatra João Perestrelo, é “errado” dizer que combate a depressão, uma vez que o diagnóstico e tratamento – que incide em várias vertentes – deve ser feito por um profissional de saúde mental. Os remédios caseiros são, por isso, “desaconselhados”.

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Este artigo foi desenvolvido no âmbito do European Media and Information Fund, uma iniciativa da Fundação Calouste Gulbenkian e do European University Institute.

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